Arqueidoscópica

Pesquisa poética de experimentação em fotografia através do Arqueidoscópio¹, um dispositivo capaz de acessar e manipular imagens fotográficas de repositórios digitais², composto por um código Processing³ e uma interface simples, de modo a gerar novos documentos imagéticos, desdobramentos e ressignificações composicionais que tensionam os processos de construção da memória na contemporaneidade.

A ideia básica do experimento consiste em capturar as imagens das publicações recentes de portais de informação. Esse processo é possível a partir da interpretação dos endereçamentos fornecidos pelos itens do arquivo XML⁴ de páginas web denominadas feeds RSS⁵, a partir disto as imagens podem ser processadas de várias formas, bem como manipuladas através de uma interface que se comunica via Arduíno⁶, cuja operação de potenciômetros e chaveamentos servem como entrada de dados, resultando em alterações no processamento e no resultado visual em tela⁷. As imagens apresentadas são atualizadas conforme a ordem de publicação das páginas de notícias determinadas pelo editorial de cada jornal. Não se trata portanto de selecionar imagens de um arquivo, mas de ativar um conjunto de imagens “atuais” disponibilizadas momento a momento que servem como matéria prima à desacomodação do olhar – uma atitude frente a postura passiva frente a ordem dos acontecimentos (ou ao menos sobre as pautas do dia). Uma passagem do consumo de informação pasteurizada à criação singular de novas memórias em outro tempo fotográfico.

Lúcio de Araújo. Arqueidoscopia, BBC UK – 17/06/2015. Frame 082

A construção social da realidade, do cotidiano e do senso comum; narrativa, dimensão simbólica, influência sobre o imaginário coletivo e memória visual são alguns dos modos como o fotojornalismo opera⁸. Esse modo faz pensar na fluidez inorgânica dos processos midiáticos, manipulada desde a origem às células ideológicas pelos vários “filtros de verdade”. Interroga-se aqui o previsível de tais imagens e simulacros. Vislumbra-se, no entanto outros sentidos de construção de mundo, possibilidades de se surpreender, narrativas improváveis e modos de significação diversificados dos modelos utilizados pela mídia a partir de uma poética que tensiona a concepção de arquivo fotográfico – em certo ponto circunscrito ao passado e ao atual⁹. A proposta busca ampliar o conceito de memória associando imagem fotográfica à probabilidade, ao porvir e ao virtual¹⁰. Por fim, uma atitude frente aos processos midiáticos e tecnológicos geradores de amnésia social.

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Lúcio de Araújo. Arqueidoscopia, NYT US – 17/06/2015. Frame 124

Das inúmeras pistas ao desenvolvimento de um experimento voltado a arquivos fotográficos chegou-se a primeira referência prática, um tutorial de Till Nagell intitulado Creative Coding – Processing RSS Feeds¹¹, com uma visão geral do uso da biblioteca XML no Processing, a aplicação de feeds RSS em sketches¹², desvendando como interpretar, utilizar e exibir os dados disponíveis das páginas web. Os sketches disponibilizados por Nagell permitiram um estudo técnico, onde se passou pela compreensão do funcionamento e atualização do código a fim de se tornar compatível à versão 2.2.1 do Processing¹³. Pretende-se aprimorar a proposta, enriquecer os modos de produção de imagem, considerando conceitos afins, possibilidades de acesso a tipos de acervos de imagens variados.¹⁴ O resultado das experimentações de Arqueidoscópica são gravados como arquivo fotográfico digital de alta resolução (formato .tif ou jpg), organizados e sistematizados em séries fotográficas catalogadas de modo apropriado.

14Projeto derivado do trabalho A Memória do futuro, inicialmente elaborado em parceria com Allan Mendes e Thales Azevedo em função da disciplina Arte e Tecnologia 3 ministrada pelos professores Christus Nóbrega e Marisa Maass no Programa de Pós­-Graduação em Arte do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB) durante o segundo semestre de 2014.

Lúcio de Araújo. Arqueidoscopia, NYT US – 13/06/2015